sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Pinceladas sobre a situação da criança em África




África é um continente grande, imenso, marcado pela diversidade de paisagens, espécies, oportunidades e níveis de desenvolvimento. Cada caso é um caso e não é, de todo, correcto fazer generalizações que resultam numa mera simplificação de características por tipificação. A pobreza e a vulnerabilidade imperam, mas há, pelo menos, dois aspectos que tenho encontrado em todos os países africanos onde vivi ou que visitei: a beleza natural e a alegria das crianças.


Em África, a contemplação da natureza transmite, muitas vezes, a sensação de dureza em resultado da seca ou da indisponibilidade de água doce: percorrem-se quilómetros, que parecem infinitos, na companhia de paisagens que alternam entre a relativa densidade e a profunda aridez. De quando em vez, encontram-se comunidades que dão cor e vida aos espaços como se de um quadro animado se tratasse. E, uma vez ali, novas sensações nos enchem a alma: o tempo parece ter parado fazendo-nos viajar até outras formas de vida, mas sentimo-nos rejuvenescidos pela multidão de crianças chegando de todos os lados só para ver quem acabou de entrar na aldeia.

África é um continente de contrastes, o mais velho do Mundo, que identificamos com a origem da humanidade, e um dos mais jovens do ponto de vista demográfico, já que cerca de 40% da população tem idade inferior a 15 anos. Os dados sócio-demográficos levam-nos a pensar que é um continente de esperança porque as crianças representam o futuro, porque quando olhamos para elas vemos dois olhos enormes, imensos, repletos de curiosidade e um sorriso tão grande quanto as pequenas fisionomias permitem. Estas são crianças pobres que não têm quase nada, só comem uma refeição por dia, estudam e trabalham para ajudar as famílias na aquisição de alimento e de outros recursos, dentro das suas possibilidades e do que consideramos impensável para os nossos. São crianças vulneráveis que crescem demasiado depressa porque não brincam, estudam pouco porque não podem seguir mais à frente, são responsabilizadas pelas tarefas domésticas, pelo acompanhamento de outras crianças e pela continuidade da família. Casam antes de tempo sem se aperceberem do que é o amor, têm filhos a correr, uns atrás dos outros, porque, apesar de nos parecer que o tempo ali não passa, para eles o envelhecimento vem quase a seguir à infância.

E ao olhar nos olhos destas crianças, quase adultas, cheios de curiosidade e de ver os seus sorrisos abertos, genuínos e cheios de pureza, questiono-me: no meio de tudo, onde fica a esperança? A sensação com que fico é que estas crianças estão a viver da mesma forma que os pais, os avós e todos os que viveram antes deles. E que os filhos e os netos viverão da mesma forma...




*Brígida Rocha Brito é socióloga, Doutorada em Estudos Africanos, Investigadora (CEA/ISCTE-IUL) e docente da Universidade Autónoma de Lisboa (Licenciatura em Relações Internacionais)

 

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