segunda-feira, 2 de julho de 2012

Artigo - Início do futebol feminino no Brasil e a influência da mídia



Sabemos que o primeiro jogo oficial de futebol feminino no mundo se deu em Londres, em 1898, em um jogo emocionante entre Inglaterra e Escócia. Porém, no nosso caso brasileiro, existem muitas controvérsias e versões. A Revista Veja (Flores do Campo, 1996, p. 72-73) traz uma matéria afirmando que o futebol feminino teve seu início marcado por jogos organizados por diferentes boates gays no final da década de 70. Ainda nesse tema de início do futebol feminino no país, o Jornal O Estado de SP (1996, p.5) revela que o futebol feminino esteve relacionado a peladas de rua e a jogos beneficentes. E por fim, segundo Clério Borges, a primeira partida de futebol feminino foi realizada em 1921, em São Paulo, onde enfrentaram-se os times das senhoritas catarinenses e tremembeenses. Contudo, em 1964, o Conselho Nacional de Desportos - CND proibiu a prática do futebol feminino no Brasil.

A institucionalização do futebol feminino começou em meados da década de 80. Salles et al. (1996) afirmam que no Rio de Janeiro constam informações que a primeira liga de futebol feminino do Estado do Rio de Janeiro foi fundada em 1981, e que muitos campeonatos que se seguiram eram patrocinados por diferentes empresas. Ainda segundo o mesmo jornal (1996), foi a partir de 1980 que o futebol feminino começou a se popularizar mundialmente. O time carioca Radar colecionou títulos nacionais e internacionais. Em 1982, conquistou o Women's Cup of Spain, derrotando seleções da Espanha, Portugal e França. A vitória estimulou o nascimento de novos times e, em 1987, a CBF já havia cadastrado 2 mil clubes e 40 mil jogadoras. No ano seguinte, o Rio de Janeiro organizou o Campeonato Estadual e a primeira seleção nacional conquistou o terceiro lugar no inédito Mundial da China. O ano de 1988 marcou também o início da decadência do Radar e, com ele, do futebol feminino do Brasil.

A mulher no esporte em geral, é lembrada não por seu desempenho ou conquista, mas pela sua beleza e sexualidade frente ao que a mídia retrata, "o jogo bonito de se ver" não está relacionado ao jogo em si, nem ao aspecto estético das belas jogadas, mas às pernas das jogadoras, às "sainhas e bermudas", enfim, associado a imagem veiculada e vendida pela indústria cultural, determinando padrão de beleza feminina, que confunde a estética do jogo com a estética do corpo ( BRUHNS, 2000).

Contribuindo com estas situações, a mídia esportiva pouco espaço confere ao futebol feminino e quando o faz, geralmente, menciona não tanto os talentos esportivos das atletas, árbitras ou treinadoras mas a sua imagem e o seu comportamento. Lembro-me que no dia 11 de maio de 2005, o Jornal Bahia meio Dia falava sobre a auxiliar de arbitragem Ana Paula de Oliveira cuja competência vem sendo destacada pelos pares. Com uma matéria intitulada: Uma celebridade do apito. A matéria evidenciava os atributos físicos da árbitra em campo. Onde num encontro do Esporte, realizado na cidade de Porto Alegre, ela foi bastante assediada pelos participantes. Um dos jornalistas relatava: “o fato é que, de um jeito ou e outro, todos queriam ver a bandeirinha de perto sem trajes sociais. Nas mesas, os homens discutiam se ela ficava melhor de cabelo preso e rabo-de-cavalo, como nos gramados, ou de madeixas soltas, como ontem”.

A profissionalização no Brasil é acentuadamente difícil, visto que não há uma entidade forte que organize o futebol feminino e também não há investimento público nem privado (SUGIMOTO, 2003). Nos EUA, o futebol é visto como esporte feminino, enquanto que em 1994 foi o vice-presidente quem entregou a Taça ao capitão da seleção brasileira, Dunga, e em 1996 foi o próprio Bill Clinton quem entregou a Taça pelo mesmo evento, porém feminino. O que não significa que a mulher é bem mais reconhecida lá do que é aqui nos esportes, frente que a mesma não tem vez no futebol americano e no beisebol, dois dos esportes mais difundidos nos EUA (SUGIMOTO, 2003).

Segundo Eriberto Lessa Moura, atualmente para as mulheres brasileiras sua participação ultrapassa o entendimento de que as mesmas tenham apenas um papel de relevância secundária, sendo coadjuvantes, como a mãe que lava os uniformes dos meninos, a irmã que limpa as chuteiras, a namorada que prepara os canapés e serve as bebidas, etc. Elas agora se afirmam tendo um papel sócio-esportivo no mesmo nível dos homens brasileiros. Não igual, pois o direito à diferença articula um caminho para uma convivência mais saudável entre os sexos e para a construção de um gênero humano que se componha como uma unidade na diversidade.



Considerações finais

Enfim, em se tratando de um país como o Brasil, onde o futebol é discursivamente incorporado à identidade nacional, torna-se necessário pensar, o quanto este ainda é, para as mulheres, um espaço não apenas a conquistar, mas, sobretudo, a ressignificar alguns dos sentidos que a ele estão incorporados de forma a afirmar que esse espaço é também seu. Um espaço de sociabilidade e de exercício de liberdades.

O fruto que conhecemos desse processo de novas conquistas e descobertas é a criação da versão feminina da Copa do Mundo, que demonstra a organização e institucionalização da modalidade. Os países onde mais se nota o crescimento da versão feminina são China e Estados Unidos. Já no Brasil, país cinco vezes campeão mundial e referência em termos futebolísticos, a mulher ainda busca afirmação dentro das quatro linhas do gramado.






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