sábado, 19 de janeiro de 2013

Entrevista exclusiva com a treinadora Vera de Bettencourt - "O saber só tem sentido se for partilhado”


Confira a entrevista exclusiva de Vera de Bettencourt, treinadora da equipa Senior Feminina do Sport Lisboa e Benfica 2012/2013 e a primeira mulher a treinar equipes masculinas no Distrital de Lisboa e na Divisão de Honra.

Perfil
Treinadora a equipa Senior Feminina do Sport Lisboa e Benfica 2012/2013.
Técnica Equipa de seniores de Futsal masculino G.D.Operário - Divisão de Honra da A.F.Lisboa
Coordenadora Técnica da escolinha de Futsal UPVN – União e Progresso da Venda Nova
Coordenadora da Academia de futebol e futsal Vera Bettencourt
Seleccionadora de Futebol e Futsal da Associação Distrital de Lisboa





Futsal Press - O que a levou a ser treinadora de Futsal?
Vera de Bettencourt - O gosto pelo desporto, fiz o meu percurso normal como jogadora e sempre soube que quando deixasse de jogar seria treinadora. Foi algo muito natural.


Futsal Press - Na época do seu início alguma pessoa te influenciou? 
Vera de Bettencourt - Não, tudo aconteceu naturalmente direccionei a minha carreira nesse sentido, aprendi com quem tinha mais experiencia, comecei pela formação e só mais tarde treinei seniores o que me deu uma grande vantagem.




Futsal Press - Você e a primeira mulher a treinar equipes masculinas no Distrital de Lisboa e na Divisão de Honra. nos conte sobre isso.
Vera de Bettencourt - Em 2009 fui tirar o Nível III de futsal e depois de o terminar recebi um convite para ir “ajudar” a treinar uma equipa sénior masculina na 1ª Divisão Distrital de Lisboa e as coisas correram bem e um mês mais tarde já era a Treinadora principal. Esta equipa subiu para a divisão de Honra. Ainda durante a época, recebi um convite para ir treinar o G.D.Operário que estava na 2ª Divisão Distrital aceitei e a equipa foi campeã e subiu para a 1ª Divisão. No ano seguinte voltaram a ser campeões e subirão para a Honra onde se encontra actualmente.

Mas como recebi o convite do SLBenfica para treinar a equipa feminina não podia estar como treinadora das duas equipas e passei a ser Coordenadora técnica, função que também desempenho na escolinha de futsal do União e Progresso da Venda-Nova onde dou aulas de futsal para crianças dos 4 aos 12 anos aos sábados e na Academia Benfica Águia Sport (Açores) onde me desloco para fazer acções de formação. A minha função é ajudar a gerir a equipa, os treinadores e tudo o que envolve a organização da mesma, no fundo é trabalhar na retaguarda, partilhar os meus conhecimentos, estou aprender como tudo funciona, Tem sido uma experiencia fantástica, no início a treinar homens e agora como coordenadora aprendemos muito mesmo, crescemos como treinadores experimentamos outro nível de competição que não existe no feminino e acredito que com esta experiencia me tornei melhor treinadora e mais bem preparada.

Sobre o futsal feminino em Portugal e em outras partes do mundo, como você avalia o que falta para que o futsal feminino seja encarado de uma forma melhor pela Fifa.
Aos poucos vamos trocando informações sobre a realidade dos outros países e apercebe mo nos que todos têm dificuldades.

Estamos a falar do desporto no feminino, que não é levado a sério, não é valorizado, culturalmente não é bem aceito, porque as mulheres são educadas para fazer desportos femininos como o ballet, a dança a ginástica tudo que valorize a imagem da mulher feminina, dócil elegante. E o futsal/futebol é tudo menos isso. Mesmo nós mulheres colocamos muitos entraves, somos nós as primeiras a não deixar as nossas filhas jogar futsal/futebol porque ainda não é bem aceite na sociedade. Em Portugal também sofremos deste problema cultural.

Depois as Associações de Futebol colocam o futsal feminino na formação, ou seja é obrigatório que quem tem seniores masculinos a ter feminino ou escalões abaixo dos seniores.
Financeiramente não é atractivo para as empresas patrocinarem o feminino pois não existe retorno, as equipas aqui vivem muitas a base de mecenas, de familiares que ajudam, dos treinadores que gostam muito desta modalidade que tiram deles, em prol do futsal.
Futsal feminino é amador, não existe treinadores profissionais no feminino pois raramente os mesmo são remunerados.

Tudo isto é uma brincadeira que a nós treinadores nos custa dinheiro, para muitos é encarado como um hobbi e alguns vivem na esperança de um dia darem o salto para o masculino para serem valorizados.

Temos que começar por arrumar a nossa casa, tudo isto passa por nós mesmo, quer como dirigentes, treinadores e atletas ligados ao futsal feminino termos pessoas nos lugares de decisão que gostem e apostem no feminino, sermos profissionais, existirem projectos bem estruturados para o feminino nos clubes e por ultimo os clubes terem coragem de tratar o feminino como tratam o masculino com igualdade. Quando conseguirmos fazer tudo isto, teremos mais condições e credibilidade para que invistam no feminino e a Fifa perceba que futsal no feminino tem tudo para ser um sucesso.



Futsal Press - Recentemente nós tivemos o Mundial de Futsal feminino em Portugal, faça sua avaliação sobre a estrutura e as equipes participantes?
Vera de Bettencourt  - Foi um mundial muito bem organizado, o facto da RTP2 ter transmitidos os jogos de Portugal deu a conhecer ao País e ao mundo a existência de futsal feminino porque muitas pessoas nem tinham noção que as meninas também sabem jogar futsal.
Estiveram presentes 10 selecções que abrilhantaram este evento, e que as 4 que chegaram ás meias finais são à uns tempos a esta parte as melhores quer tacticamente e tecnicamente. Brasil, Portugal, Espanha e Russia.
De realçar a equipa do Irão estão a trabalhar muito bem, a Ucrânia uma forte candidata a fazer parte deste grupo das 4 melhores e todas as outras que a meu ver estão no bom caminho para se tornarem cada vez mais competitivas.
Gostaria de ver mais mulheres a fazerem parte das equipas técnicas das Selecções porque existem muitas treinadoras de qualidade e o exemplo veio do próprio Irão.


Futsal Press - Em que pontos o futsal tem que melhorar?
Vera de Bettencourt  - Temos que começar internamente através da formação de qualidade, os clubes têm que saber qual o caminho que querem percorrer em relação ao futsal, através de projectos bem estruturados e credíveis.
Colocar as pessoas que têm qualidade nos lugares certos e que gostem da modalidade.


Futsal Press - Em quais aspectos o futsal internacional já alcançou um nível satisfatório?
Vera de Bettencourt - Na organização de Torneios internacionais, mundiais de futsal masculino e feminino, cada vez a mais países apostar no futsal e mais atletas a praticar. Acredito que no dia em que os países escandinavos apostarem no futsal possivelmente teremos o Futsal nos jogos olímpicos.


Futsal Press - Tem algum treinador como referência?
Vera de Bettencourt  - Tenho vários, todos aqueles que de uma maneira ou de outra passaram na minha vida como atleta, e como aluna nos cursos que tirei de futsal e aqueles da qual tive o privilégio de estar presente em acções de formação que fizeram e continuam a fazer, todos eles tiveram e continuam a ter influência na treinadora que sou hoje.


Futsal Press - Jogos Olímpicos: você acredita que faremos parte deles?
Vera de Bettencourt  - Sinceramente penso que não será tão cedo. Existem outros interesses, e quem decide por vezes é influenciado por quem “manda”. Como disse anteriormente os países escandinavos têm que fazer parte dos países que têm futsal só assim poderá ser uma realidade.


Futsal Press - Qual é a importância da sua família em sua carreira?
Vera de Bettencourt  -Sem ela nunca teria conseguido chegar onde estou neste momento. São o meu porto de abrigo, por isso aproveito para lhes dizer que tudo o que conquistei a eles o devo e gostaria de agradecer por estarem sempre do meu lado, pelas ausências que foram muitas e terem compreendido que é este o caminho que escolhi, que me faz feliz.


Futsal Press - Quais são seus objetivos para 2013.
Vera de Bettencourt  - Os objectivos passam por levar a equipa feminina do SLB a ser campeã distrital e ter acesso directo ao campeonato nacional e que os seniores masculinos do GDOperario subam para a 3ª Nacional.


Do que você não abre mão
De trabalhar com qualidade, investir para cada dia ser melhor, e nunca abdicar dos nossos princípios mesmo sabendo que no desporto hoje somos muito bons e amanha já não valemos nada.


Uma frase
                                        "O saber só tem sentido se for partilhado”


                               

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