sábado, 18 de agosto de 2012

Entrevista exclusiva com o treinador José Gerardo, 'Macau pode ser uma potência na Ásia'


Confira a entrevista do treinador José Gerardo para um jornal de Macau - O CLARIM.

Por Pedro Daniel Oliveira


Foi guarda-redes de hóquei em patins e internacional português de hóquei em campo. Jogou futebol de salão e treinou depois clubes de futsal, em Portugal, na Roménia, na Espanha, na Hungria (campeão nacional), na Itália, na Polónia e, agora, na China. José Alberto Rosa, em entrevista a’O CLARIM, não duvida que Macau tem todas as condições para ser uma potência asiática da modalidade.


O CLARIM – Está a treinar o Zhaoqing, desde 1 de fevereiro deste ano. É o terceiro treinador português na China, depois de André Lima e de David Gonçalves. Como foram os primeiros tempos?
José Alberto Rosa – Foram tempos muito difíceis, porque a China é completamente diferente daquilo a que estava habituado no Ocidente. Tive muitas dificuldades em adaptar-me aos usos e costumes, à alimentação e à língua (ainda hoje sofro com este grave problema).

CL – Que mais o surpreendeu?
J.A.R. – É capaz de acreditar, se lhe disser que durante o inverno treinávamos no fundo de uma piscina de 50 metros, vazia e a céu aberto, onde havia um campo improvisado, com balizas e piso adaptado para o futsal?

CL – A sério?
J.A.R. – Aliás, não foi só a minha equipe, mas também outras. O Zhaoqing é composto por jogadores 100% amadores, da província de Cantão, que trabalham e treinam à noite. Alguns deles precisam de conduzir mais de duas horas, num trajeto de ida e volta, só para irem treinar. Não é fácil, depois de um dia de trabalho. Quando aqui cheguei, só treinavam duas vezes por semana. Tive de lhes fazer ver que isso era muito pouco. Felizmente, treinam agora três ou quatro vezes por semana, num pavilhão universitário.

CL – Que resultados alcançou ao longo dos oito meses de trabalho na China?
J.A.R. – Comigo, o Zhaoqing conquistou a melhor classificação de sempre, na Liga de Cantão (6º lugar, entre 13 equipes).

CL – Como vê o futsal na China?
J.A.R. – Neste momento, a realidade é zero! Trata-se de uma modalidade nova, que estagnou depois de ter sido implementada, há cerca de uma década. O jogador chinês é rápido e inteligente, mas tem grandes dificuldades a nível técnico e de concentração, porque lhe falta uma escola de base. O principal problema passa também pelos guarda-redes, que praticamente não têm a noção das técnicas para esta posição específica. Há, depois, uma grande falta de organização na estrutura federativa, pois ainda não compreenderam que o futsal é uma modalidade autónoma do futebol tradicional.

CL – O treinador da seleção chinesa é, desde o mês passado, o português André Lima, que você tão bem conhece...
J.A.R. – O André foi meu jogador na época de 2002/2003, quando eu era treinador-adjunto no SL Benfica. Foi um dos melhores jogadores e marcadores do futsal português. Como treinador, conseguiu ser campeão europeu de clubes, também pelos encarnados, em 2010. Um ano antes, também por este clube, já tinha vencido o Campeonato Nacional e a Taça de Portugal. Na China, conseguiu ser campeão da Liga de Cantão, ao serviço do Ko Wong Meng. Está agora a acumular o cargo no clube, com a seleção chinesa. Tem a difícil tarefa de implementar um sistema de jogo e uma conduta de grande rigor técnico-táctico. É um treinador conceituado. O seu palmarés fala por si. Assim o deixem trabalhar...


FUTURA POTÊNCIA

CL – Tem o futsal condições para singrar em Macau?
J.A.R. – Acredito que sim, porque o território tem todas as condições para ser uma potência asiática no futsal, e não no futebol.

CL – Pode concretizar?
J.A.R. – O futsal é uma modalidade que acarreta menos custos para os clubes, até porque é disputado por cinco jogadores de cada lado. Macau tem algumas infra-estruturas fabulosas (uma delas é o Pavilhão Polidesportivo do Tap Seac). Também não compreendo como é que, sendo um território tão pequeno, há uma primeira, uma segunda e uma terceira divisões de futebol. São tantas equipes! Mas porquê? Se até podem fazer algo de tão lindo no futsal...

CL – Como pode estar assim tão otimista, se o campeonato de clubes, organizado há alguns anos, foi um rotundo fiasco e a modalidade está ainda muito longe do desenvolvimento que se pretende para a alta competição?
J.A.R. – Houve alguém que me pediu o meu currículo e tracei um projeto de desenvolvimento para o futsal, com a noção e com o conhecimento do que é o desporto em Macau. Mencionei de forma taxativa que, num período de cinco ou de seis anos, o território podia ter uma palavra muito forte a dizer no continente asiático. Para isso, teria de haver uma clara distinção entre os jogadores de futsal e de futebol tradicional.

CL – E a médio/longo prazo?
J.A.R. – Poderia tornar-se, perfeitamente, numa potência asiática, e sem ter necessidade de ir buscar jogadores estrangeiros [para depois jogarem na seleção]. Não tenho a menor dúvida! Há potencialidade para haver uma formação muito boa e com futuro risonho. É preciso que as pessoas trabalhem nesse sentido. Certamente, tudo passa por técnicos competentes, que possam ensinar primeiramente nas escolas e só depois nos clubes. Macau, muito honestamente, poderia ser um baluarte no futsal, se assim quisesse!



http://www.oclarim.com.mo/j120817/local4.shtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário